21 de novembro de 2008

La Bande Dessinée. Mode D’emploi. Thierry Groensteen (Les Impressions Nouvelles)

No seguimento das muitas obras de Groensteen em torno da banda desenhada, como se fosse identificando os possíveis satélites em torno de um planeta elusivo, entendemos os vários gestos e graus a que o autor se entrega: se Le Système… é a sua contribuição teórica ao território, Töpffer, l'invention de la bande dessinée, Les années Caran d'Ache, e Astérix, Barbarella et Cie., por exemplo, os seus estudos históricos e de arrumação cronológica, La Construction de La Cage, Lignes de vie e En chemin avec Baudoin, as suas críticas específicas, e Un objet culturel non identifié uma abordagem sociológica (já para não falar da sua presença incontornável em inúmeros artigos e, de resto, tal como o próprio autor explicita e sistematiza no seu texto em European Comic Art), La Bande Dessinée. Mode d’emploi é um momento menos denso, mais leve, dirigido a um público que começa a desenvolver-se: pessoas que se interessem pela banda desenhada não de um modo anódino, de distracção, de prazer de leitura (todos válidos), mas já com uma entrega intelectual, de tentar perceber como ela funciona enquanto modo de expressão, disciplina artística, forma de ver o mundo e de o dar a ver. Mas sem ser com o empenho ou abandono absolutamente crítico mais próximo de abordagens académicas ou vincados no seu discurso e posição de entendimento da banda desenhada (como os textos deste espaço?). Uma introdução, digamos assim, mas sem condescendências, paternalismos ou marcha-atrás à falta de pensamento.
O que Groensteen faz aqui é ajudar a ler. É-o sempre, nos seus livros, sem dúvida. É uma questão de grau, como se dizia, de título para título. Neste mode d’emploi, o título diz tudo, instruções para uma primeira abordagem daquele público que começa a dar os segundos passos na apreciação da banda desenhada. Nada é indigno da atenção do filósofo, como reza Baudelaire, e é dessa exacta consciência que nasce este gesto que dá as boas-vindas a essa dignidade e atitude, àqueles que a desejem pela primeira vez… Organizado mais por princípios de força do que por géneros ou momentos históricos, encontram-se aqui muitas pistas em como pensar “tradições”, “famílias”, “conjuntos” ou “diálogos” entre obras que, quiçá, nos pareceriam irremediavelmente disjuntas.
Como é de esperar, este livro apesar de ser utilíssimo, e agradabilíssimo, aos primeiros leitores, sê-lo-á igualmente aos regulares seguidores de Groensteen, como todo o que ele propõe de revisitação, de tomada de posição e diálogo, de novas ponderações para com os muitos textos existentes (primários e não só), sem se excluir a possibilidade de descobrir autores desconhecidos – no meu caso, Alexis, Goosens – ou relembrar alguns esquecidos do grande público – Jean Teulé, Pierre La Police, Claire Bretécher… E basta mostrar uma prancha como esta, e apontar judiciosamente para onde a atenção se deve prender, para quais as regras específicas a empregar face a este trabalho, para abrirmos todas as potencialidades de leituras adaptadas a cada obra, a cada autor, a cada texto, a cada circunstância concreta da banda desenhada. Não tomando a banda desenhada como um todo, como um corpo único sem diferenciações no seu interior, mas enquanto espectro amplíssimo em que cabem todas as suas crises particulares. Para sabê-la empregar.

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